Resenha: As verdadeiras riquezas | Kaouther Adimi

Quantas histórias cabem dentro de uma livraria?

Não falo apenas dos personagens criados, mas também a dos autores, de cada pessoa que toca nos livros, que entra apenas por curiosidade e de cada leitor.

Em As verdadeiras riquezas conhecemos a história de uma livraria, do seu criador que deixou cada passo anotado em direção de um sonho que persistiu com muito carinho e cuidado e se entrelaça com a história de um jovem que vê naquele lugar um amontoado de coisas velhas e um senhor que nunca leu um livro, mas que ama como um verdadeiro leitor de almas.

Seja bem-vindo a uma grande homenagem a nós leitores!

“Um livro é algo que se pode tocar, manusear sem medo. Não é preciso hesitar ao dobrar os cantos das páginas para marcá-lo, ao deixá-los de lado depois de le a metade para depois retornar a leitura, ao esconder debaixo do travesseiro…”

Sinopse: Ryad, um jovem e indolente estudante universitário parisiense de 20 anos, chega a Argel com o objetivo de completar seu estágio, que consiste em esvaziar a lendária livraria As Verdadeiras Riquezas e em se desfazer de todos os livros.

Ryad não gosta de leitura e quase tem medo da escrita; para ele, os livros são apenas uma fonte de ácaros e poeira. Dessa forma, ele encara essa experiência como uma desagradável tarefa que lhe é imposta.

Contudo, uma vez instalado na livraria, o jovem, inevitavelmente, mergulha na atmosfera imensamente evocativa do lugar e, por meio dos livros com páginas amareladas, cujas pilhas abarrotam o minúsculo espaço, e das inúmeras fotos desbotadas ainda penduradas nas paredes, descobre aos poucos a excepcional experiência humana de Edmond Charlot, que, em 1936, aos vinte anos, montou a livraria e, pouco mais tarde, as Éditions Charlot.

O local funcionava como um ponto de encontro de um extraordinário grupo de aspirantes escritores que incluía, entre outros, Albert Camus, Jean Giono, Saint-Exupéry e André Gide.

Nessa experiencia, Ryad é acompanhado pelo velho Abdallah, o último livreiro de As Verdadeiras Riquezas, uma espécie de guia espiritual que se recusa a deixar o lugar.

Essa história, uma combinação de eventos reais e invenção literária, é contada através de uma série de saltos entre passado e presente, usando os diários de Edmond Charlot como fio condutor.

O romance é a história de uma paixão infinita pela literatura que se desenvolveu ao longo de eventos históricos e dramáticos, como a Segunda Guerra Mundial, o colonialismo e a guerra de independência da Argélia.

As verdadeiras riquezas é um livro para quem ama os livros.

“Houve um tempo em que os livros eram tão preciosos que nós os olhávamos com respeito, que os prometíamos ás nossas crianças. que os oferecíamos aos entes queridos!”

#OpiniãoEuAmo: Como não se apaixonar por um livro que conta a leitura? Impossível!

As verdadeiras riquezas é uma construção de narrativas sólida, de encaixe perfeito entre épocas e acontecimentos. Um livro curto, mas com uma imensidão de sentimentos.

Conhecemos um período de resistência, quando se instaurou a Segunda Guerra Mundial, onde não se tinha papel para publicações, passamos pelas crises do mercado editorial que aliás é bem atual.

Viajamos por anos a fio e descobrimos que sonhos (aquele que vende na padaria), são mais importante que os livros. Mas percebemos que uma comunidade pode abraçar uma livraria que mesmo em ruínas deixou seu legado de amor.

Aliás, toda essa história é um romance, ela conta aos quatro ventos o que é verdadeiramente amar a literatura, o quanto isso é um ato de resistência e de coragem.

Pra mim o único defeito desse livro é que o passado se exalta e o presente é deixado um pouco de lado, queria saber mais sobre o futuro daquele lugar e também achei que o enredo ia pra um outro lado, mas mesmo assim continua sendo uma leitura incrível.

Se você é um leitor, ama viajar pelas histórias, por mundos diferentes, leia As verdadeiras riquezas!